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Obesidade e Enxaqueca

PUBLICADO EM 22/04/2019

Juliana Wille Silva

Nutricionista; Prof.ª de Educação física; Membro do Setor de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto de Neurologia de Curitiba; Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia

Bárbara Dal Molin Netto

Nutricionista; Mestre em Nutrição pela UFSC; Doutora em Nutrição pela UNIFESP; Membro do Setor de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto de Neurologia de Curitiba; Membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia

 

A enxaqueca é uma das dores de cabeça mais comuns e um importante problema de saúde pública. Além disso, é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças crônicas mais debilitantes, impactando significativamente a vida de seus portadores e os serviços de saúde.

Sabe-se, que fatores externos apresentam um papel determinante no surgimento e agravamento das crises, os quais são conhecidos como fatores gatilhos e cronificadores. Dentre esses fatores, destacam-se os extremos do estado nutricional – desnutrição e obesidade; assim como fatores dietéticos (o alimento em si, o comportamento alimentar, e/ou os componentes alimentares).

Neste sentido, a enxaqueca se enquadra em um grupo crescente de problemas de saúde que são agravados pelo estilo de vida. A frequência da obesidade, por exemplo, cresceu em proporção epidêmica nos últimos anos. No Brasil, a pesquisa mais recente que mostrou dados epidemiológicos de obesidade revelou que mais da metade da população adulta apresenta excesso de peso e 18,9% estão obesos (VIGITEL, 2016). Atualmente, o Brasil ocupa o sexto lugar no ranking de gastos com tratamentos de doenças relacionadas com o excesso de peso no mundo.

A relação entre obesidade e enxaqueca também tem sido estudada. O excesso de peso pode estar relacionado à cronificação da enxaqueca. As pesquisas também verificaram que há relação entre o excesso de peso com maiores ocorrências de crises de enxaqueca e maior intensidade dos seus sintomas.

A obesidade é uma doença crônica de caráter multifatorial (interação de fatores genéticos e ambientais), definida pela OMS como acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde. Ocorre em países de alta, média e baixa renda, em homens e mulheres e em todas as faixas etárias. As inúmeras alterações metabólicas e funcionais, causadas pela obesidade predispõem ao desenvolvimento de síndrome metabólica e chances da coexistência de outras doenças.

Mesmo com a gama de medicações disponíveis para o tratamento da enxaqueca, vários pacientes não terão uma melhora significativa na frequência e gravidade das dores de cabeça, a menos que façam modificações no estilo de vida, as quais incluem mudanças na alimentação, e como consequência o emagrecimento.

O uso de medicamentos para redução do excesso de peso e obesidade dificilmente consegue resultados duradouros e pode apresentar efeitos adversos importantes. Reforçando, desse modo, a conduta não medicamentosa (dietoterapia) que se mostra mais favorável, com efeitos mais sustentáveis a médio longo prazo e com consequente melhora nos riscos.

A obesidade é uma doença crônica, que necessita de investimentos em políticas públicas de prevenção e tratamento, pois ela tende a piorar com o passar dos anos, reduzindo a qualidade de vida, caso não haja tratamento adequado e contínuo. A dietoterapia associada a orientações para promoção de hábitos saudáveis se mostram capazes de promover melhoras nos padrões antropométricos e dietéticos, refletindo na redução e na gravidade das crises de enxaqueca.

 

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Vigitel Brasil 2016: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/abril/17/Vigitel.pdf Acesso em: 14 abr. 2018.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27714637

http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3971380/

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X2002000100030